Quando os aluninhos ficaram sabendo que o Mestre iria se
casar com Xantipa, entraram em polvorosa.
Seria um caso de chantagem explicita? Um sequestro de algum
parente importante? Uma perda de memória do Mestre?
Como se uma corrente os puxasse, dispararam morro acima para
encontrar Sócrates caminhando calmamente na Ágora, como ele sempre fazia ao
entardecer.
Intrigado com aquela súbita chegada fora de hora dos
discípulos, bastou o olhar inquiridor para que recebesse a resposta de
inusitado acontecimento.
Como poderia o homem mais sábio da Grécia, casar-se com a
pior das mulheres do mesmo espaço? Uma mulher que, além de feia, era tida como
a mais fofoqueira, a mais arrogante, a mais perdulária e fútil, a mais tudo o
que não prestava?
Se fosse chantagem sobre o assunto “relacionamento
homo-afetiva” do mestre com os alunos, dariam um jeito de calar-lhe a boca.
Caso não conseguissem com argumentos, poderiam manda-la para Creta conversar
com o Minotáuro. Com certeza isso a convenceria a abandonar plano tão fora de
propósito.
Sócrates, como sempre fazia diante das perguntas, manteve
sua serena paciência até que os argumentos estivessem plenos para receberem a
resposta adequada. Faltava apenas que os mais exaltados sentassem ao derredor.
- Caros alunos, é certo que tudo isso que dizem sobre minha
futura esposa é verdade. É certo também que eu farei este casamento da mais
livre e espontânea vontade, que deverá acontecer em breve. Vocês todos serão
convidados serem testemunhas do fato.
- Mas, caro Mestre, se isso tudo que dizem dela é
verdadeiro, por que você fará isso? Ainda mais de livre e espontânea vontade?
- Muito simples, caro discípulo, se eu conseguir conviver
maritalmente com semelhante pessoa, poderei viver com qualquer outro ser na
face da terra.
E mais não disse, dando por encerrada mais uma aula inesquecível.