SERÁ QUE VOCÊ CHEGARÁ ATÉ AQUI ?

Curiosamente, as pessoas costumam ofender os outros com os nomes que mais lhes convém na hora da raiva.

Cada um tem seu momento, e expulsa do peito aquilo que seu âmago mais detesta no outro. Os palavrões são muito comuns. Até mesmo pessoas cultas acabam usando, palavras de baixo calão para atacar o outro. E buscam ferir mesmo.
A palavra em Inglês é WORD. Acrescida de um "S" inicial vira ESPADA.  Ambas ferem e podem matar um inimigo, mesmo que ocasionalmente. Muitas vezes nos arrependemos de ter “matado” ou ferido alguém. Mas ai já é tarde, pois a flecha atirada acertou em cheio.  

Claro que muitos têm coletes próprios e não se ferem tanto, mas sempre deixam alguma marca em quem foi atingido.

Uma das ofensas mais usuais que minha geração é de se xingada de “velho”. Um sinônimo de imprestável, de algo que está na hora de ser jogado no lixo. Ou apenas empilhado em algum depósito, longe dos olhos de quem usa esse petardo.

Confesso que não me sinto confortável quando alguém me chama por esse qualificativo. Mesmo sendo um autêntico representante de pessoa rabugenta, não me sinto velho o suficiente para “merecer” o qualificativo.

Por outro lado fico pensando como as coisas mudaram nestes últimos anos.

No “meu tempo” de jovem, chamar alguém de velho era referir-se a alguém que realmente não tinha nada mais para dar. A não ser trabalho para todos, é claro. Hoje se sabe que muitos são os velhos que ainda mantém as famílias alimentadas com sua mísera aposentadoria, cavada com seu trabalho de toda uma vida. A imagem, abaixo, diz mais ou menos o que eu queria. Mas, antes uma pergunta: quantos que nos chamam de velhos terão o prazer de chegar onde estamos hoje ?



Memória de um Mané.


Segunda parte: A fase terceira.

Em verdade vos digo que queria mesmo era ter a alma de fiel escudeiro de um Don Quixote.
Sempre me fascinou a figura de Sancho Pança. Ali, em segundo plano, nada querendo, a não ser, como prêmio, uma ilha somente sua, onde pudesse finalmente descansar. Seu trabalho era apenas atender seu amo para ajuda-lo a realizar os desejos de Justiça.
Isso eu queria ter sido. Mas meu ego não aceitou. Queria mesmo era a posição de Don.
Passei todos estes anos envolvido em alguma luta. Sempre com paixão desmedida.
No principio foi minha primeira namorada. Imaginava que seria a única. A última. Aquela que completaria minha parte faltante.
Nem chegamos a trocar nosso primeiro beijo e acabou o sonho. Um irmão dela proibiu. Isso já contei em memória anterior.
Em seguida, descubro que a Revolução precisava de soldados para derrubar a tal Ditadura instalada no Brasil pelos golpistas de 64.
Fiquei refém dessa paixão até que, pressionado por um primeiro filho, esposa, e deveres de chefe de família, abandonei a paixão. Mas nunca perdi esse amor de vista.
Envolvido em meu mundo de empresário, as paixões estavam todas voltadas para a criação, busca do sucesso econômico, compra de bens imóveis, projetos, empreendimentos... Enfim, uma valiosa experiência de vida.
Mas, como tudo passa, e se torna fardo quando não é nosso escopo de vida, essa fase também passou. Deixou mais problemas que saudades. Embora tivesse sido muito boa enquanto durou.
Nova vida, nova mudança de rumo. Hora de me aposentar, lembrei que Porto poderia ser um lugar seguro para essa nova fase. Afinal, aqui tinha coisas para terminar. Então nada melhor que juntar o útil ao agradável.
Num caminhãozinho juntei um mínimo de tralhas para essa mudança. Seria a penúltima de minha vida. Foi o que meu Sancho pensou. Finalmente meu Don iria se aposentar e eu teria a tão sonhada ilha.
Pois o destino não quis que assim fosse. Minha amada esposa terminou sua missão na terra – é o que dizem os crentes e espíritas – e eu fiquei tão desnorteado sem minha metade, que entrei num limbo infinito.
Jamais tomaria remedinhos de farmácia para aplacar minhas tristezas. Até que aceitei o convite de um amigo para conhecer a nova droga do momento: O FACEBOOK.  
Em menos de dois dias estava perdidamente viciado por essa “coisa”. Juntei minha fome de comentarista militante com a vontade de comer novidades sociais.
Até que cruzei com uma figura, para mim extraordinária, num dia em que tudo parecia normal.
Novamente apaixonado!!! Não mais por uma causa, não mais por um objeto, não mais por buscar conhecimento ou brigar pelas ideias de Don Quixote. Mas, sim apaixonado pela tão sonhada musa, buscada por toda a vida. E ali estava ela. Ao alcance de um click no mouse. Tão próxima que podia sentir seu cheiro de fêmea misturado ao perfume do mar que lhe emoldurava as fotos.  Um ser tão extraordinário que, mesmo sabendo ser mitológico, eu queria me atirar em seus braços. Beijar seu todo, até sentir que estava beijando a própria alma.
Uma paixão tão abrasadora, principalmente por se tratar de uma Aldonza, que me fez pensar que correspondia igualmente aos anseios de alma buscando sua parte perdida, em outra época.
Até mesmo a voz era o de sereia encantando um Ulisses amarrado em mastro de navio.
Durou séculos esse estado. Mesmo que fossem poucos dias, e entrecortados de ciúmes, ataques de êxtase, e outras manifestações emocionais que jamais havia experimentado.
Até que, da mesma forma como iniciou, terminou com o triste despertar para a realidade.
Don Quixote sempre foi um cavaleiro da Triste Figura, como bem o desenhou seu autor há tantos séculos passados. Diverte a todos. Menos a si mesmo.
Agora só me resta a providencia de liberar meu fiel escudeiro. Decepciona-lo por não ter lhe entregue a tão sonhada ilha.
Soltar meu Rocinante num verdejante pasto, e aguardar que os desuses da natureza façam sua parte.
Enquanto não chegarem, aqui estarei escrevendo minhas memórias. Criticando tudo e a todos.  Amando a beleza natural nas imagens que, graças à tecnologia, chegam pela janela do monitor.   

Vai mais uma aí ?


Pois então tome uma saideira.
A conta é por nossa conta.